Susana Vieira lança biografia “Senhora do Meu Destino” com histórias inéditas
Foi lançado recentemente no Brasil, pela Globo Livros, “Susana Vieira: Senhora do Meu Destino“, a biografia de uma das maiores atrizes do país. Escrita em parceria com o especialista em teledramaturgia Mauro Alencar, a atriz relata, sem filtros e sem censura, toda a sua trajetória, desde a infância até o estrelato. O livro aborda os obstáculos na vida pessoal e profissional, o câncer descoberto em 2015, as polêmicas, os momentos icônicos que viraram memes e a maneira única com a qual ela encara o mundo. A obra traz ainda um caderno de fotos com registros históricos da TV e da carreira de Susana, além de momentos íntimos. Conta também com depoimentos de colegas de profissão e amigos, como Miguel Falabella, Tony Ramos, Arlete Salles, Silvio de Abreu, Boni e Renata Sorrah.
A revista “Veja Cá, Veja Lá” teve o prazer de conversar com a atriz, por telefone, sobre esse lançamento que já é tão aguardado em Portugal. Susana Vieira é muito querida pelo público português e pelos brasileiros que cá vivem. Nessa conversa, ela também deixou claro seu amor por Portugal.
Como foi o processo de escrever suas memórias? Essa lembrança afetou você de alguma forma?
O processo de escrever minhas memórias foi muito interessante. Ao contrário do que muitos podem pensar, que ficaríamos tristes ou nostálgicos, sentindo falta da felicidade do passado, para mim não foi assim. Meu passado foi muito bom. Sempre que me lembrava, vinham à mente apenas recordações agradáveis. E os momentos difíceis da minha infância e adolescência, ao contá-los, eu o fazia com humor, pois já haviam passado. Foi fácil porque o Mauro conhecia profundamente a minha história. Ele fazia perguntas muito pertinentes e diretas, o que facilitou o resgate das minhas memórias.
Houve algo que você queria ter mencionado no livro, mas não teve coragem?
Não, eu não acredito que tenha dito não a alguma pergunta do Mauro. De fato, decidimos deixar de fora do livro um ou dois tópicos que não consideramos importantes. No entanto, respondi a todas as questões que ele me fez e que eu conseguia lembrar, pois cada pergunta dele levava a outra memória minha. Tenho coragem para tudo; estou viva aos 81 anos, com minhas convicções e posturas firmes, sou uma mulher de palavra. Se optei por omitir algo, foi por um acordo entre mim, a editora e o autor, que é o próprio Mauro. Tive coragem para viver, então certamente não me faltaria coragem para escrever.
Qual é a lembrança mais marcante que você compartilhou no livro?
Acho que o evento mais marcante relatado no livro é algo recente: a descoberta da minha leucemia. Estávamos prontos para uma viagem à Paraíba, onde mora uma sobrinha minha com seus quatro filhos e o restante da minha família. Meu filho e meus netos, que vivem nos Estados Unidos, também viriam para passarmos o Natal juntos lá. No entanto, senti-me muito mal um dia antes da viagem. Tinha chegado de Miami no dia anterior com meu filho e minha nora. Planejávamos partir para a Paraíba no dia seguinte para celebrar o Natal com a família. Mas, de repente, senti uma falta de ar terrível em casa. Liguei para o meu médico da cozinha, e ele instruiu: “Vá imediatamente para o hospital.” Lá, descobri a gravidade da minha condição: estava com anemia hemolítica autoimune, ainda pior que a leucemia que eu tinha. Isso foi devastador, pois frustrou o Natal de toda a família viva, acredito que foi em 2020 ou 2021, não recordo exatamente. A ideia de reunir pela primeira vez as três gerações no Natal estava arruinada. A primeira geração somos nós, eu e minha irmã; a segunda, nossos filhos; e a terceira, os filhos de nossos filhos. Fiquei muito frustrada, chorava no hospital, implorando para ir embora, mas os médicos diziam que eu não podia. Eu estava gravemente doente, mas não me conformava. Essa é a memória mais chocante para mim, muito recente. Das memórias mais antigas, lembro talvez de quando quebrei o pulso patinando nas ruas de Olivos, em Buenos Aires, onde morávamos. Era uma descida, e eu adorava frear no final da rua. Mas, naquele dia, não consegui parar a tempo e um carro me atingiu levemente, caí e quebrei o pulso. Não podia contar ao meu pai, pois tinha medo da reação dele ao saber que havia quebrado o pulso patinando perto de casa. Enfim, eu havia cometido uma infração de trânsito e meu pai era muito severo. E nesse mesmo dia meu pai tinha comprado uma mesa de pingue-pongue e estava muito animado, desembalando as “raquetinhas” de madeira e ansioso para jogar com a gente. Eu não disse que minha mão direita estava quebrada; ela estava, torta e doendo muito. A bola ia para um lado e eu jogava para o outro, até que meu pai percebeu que havia algo errado e descobriu que eu estava com o braço quebrado. Morávamos em Olivos, um bairro distante da cidade e dos hospitais. Lembro-me de ter recebido uma bronca o caminho todo até o hospital e, depois, de volta para casa com o braço engessado.
Existe a possibilidade de o livro ser adaptado para uma peça de teatro ou um filme?
Existe sim. O próprio editor tem a ideia de escrever uma peça, um monólogo, que sou eu contando para o público a minha história. Eu tenho essa facilidade de me expressar com a plateia, como fiz aí em Portugal com vocês. Fiz um mês de peça, Shirley Valentine, e nessa peça eu fico contando para o público a minha história. Há uma grande conexão entre mim e meu público. Então, ele tem essa ideia de transformar o livro em peça, colocando mais ou menos em ordem como está e eu contando um pouco mais teatralmente as fases do livro. Eu acho uma boa ideia. E a Globo também está preparando um especial dos meus 54 anos de TV Globo, é um tributo que eles estão fazendo com os artistas mais antigos. Já fizeram com o Manuel Carlos, com Lima Duarte, Laura Cardoso, e o meu fica pronto no próximo ano, quando a Globo completa 60 anos.
Após terminar o livro, ficou satisfeita com a história que contou?
O livro ficou pronto para o público em 2024. Mas já estava pronto em 2022, e foram dois anos de revisão, porque a editora é em São Paulo, o Mauro mora em São Paulo, e eu moro e trabalho no Rio de Janeiro, então houve um atraso para chegarmos a um acordo, todos juntos. Precisávamos também das autorizações para as fotos, e são fotos muito antigas. Depois do livro pronto, ainda ficamos dois anos fazendo a triagem das fotos, dos textos, de pessoas que queriam entrar no livro e das homenagens que eu queria prestar. De lá para cá já aconteceu muita coisa. Quer dizer, de 2022 a 2024 já aconteceram muitas coisas. Possivelmente se eu viver mais 10 anos pode ser que dê mais um exemplar. Porque eu continuo fazendo a peça Shirley Valentine, já fiz no Rio de Janeiro várias vezes, fui passeando pelo Brasil, fazendo o Nordeste, eu faço comerciais, faço outras viagens, vou para lá e cá, vou visitar meus netos, estou em atividade permanentemente. Eu gostei, tomei gosto pelo livro, tomei gosto de me sentar em uma livraria e ficar olhando aquelas capas de livros que são tão sedutoras, é um lugar tão sedutor, né? Uma livraria é um lugar tão vivo, tão colorido, parece que as pessoas estão falando com você, milhões de personagens. Então, eu fiquei tomada por esse bichinho. Sabe lá se eu ainda não vou escrever crônicas. Eu tenho esse projeto de escrever crônicas para um jornal ou uma revista. Fiquei muito satisfeita com a história que contei. Não dá para contar tudo porque o livro tinha um limite de páginas. Hoje é tudo muito caro, mais difícil, as pessoas não dão prioridade para os livros, as pessoas vivem com o “salariozinho” contado, ou quem tem salário alto, de qualquer maneira, já designado para vários gastos que fazem parte das suas vidas, do dia a dia. Eles não podem fazer livros muito caros, muito grossos. Também há um desinteresse pela leitura, hoje em dia, com a rapidez das redes sociais e do celular, as pessoas acham que uma frase com cinco palavras já é longa demais. Mas eu fiquei feliz. Estou em um estado de alegria maravilhoso. Parece que estou com 25 anos de idade.
Você é muito querida aqui em Portugal. Haverá a chance de um lançamento do livro aqui também?
Nossa! Eu quero muito. Essa é uma expectativa que eu almejo com muito desejo mesmo. Eu já passei até um contato que eu tenho de Portugal, um interesse aí de vocês, de me terem, eu teria imenso prazer em lançar o livro aí. Porque o público português foi maravilhoso comigo na minha estadia durante um mês, fazendo a peça em 8 cidades de vocês, fui muito bem recebida, amorosamente, a peça passou por nota 10. Eu me rejuvenesci, porque com atividade mental e atividade física você rejuvenesce, não entra em parafuso, não entra em depressão. Você fica feliz, alegre. Então, eu iria amar.
Texto: Rose Tomazelli
Fotos: Assessoria Susana Vieira