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Inquieto Coração – Eduardo Rieche comemora os 15 anos do seu espetáculo solo inspirado em obras de Santo Agostinho. 

A partir de 07 de novembro o público poderá se (re)encontrar com um dos grandes sucessos da cena teatral carioca dos últimos anos, o solo “Inquieto Coração”, de Eduardo Rieche, agora rebatizado “Inquieto Coração – 15 anos”.

 Com direção de Henrique Tavares e texto e atuação de Rieche, a peça joga luz sobre o lado humano de Santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C) e todas as questões que moveram seu inquieto coração na direção do autoconhecimento e do conhecimento do mundo intangível da espiritualidade.

 As perguntas e provocações daquele pensador do século IV ainda soam atuais, e muitas delas sem resposta – a tentativa de compreensão do tempo, do envelhecer, dos desejos, das autovigilâncias, da verdade, da correlação entre o sagrado e o profano, da alegria de viver.

 A peça promove um encontro inédito entre os escritos de Agostinho, este primeiro homem “moderno”, e o homem atual. “Santo Agostinho está mais próximo de nós do que imaginamos: no nosso modo de pensar a relação entre razão e fé, ação e contemplação, amor e sexo”, afirma o diretor Henrique Tavares. 

A dramaturgia de Eduardo Rieche foi construída a partir da adaptação de algumas cartas e sermões de Santo Agostinho, além de quatro de suas principais obras – “Confissões”, “A Cidade de Deus”, “A Trindade” e “Solilóquios”. “Agostinho vai muito além da figura religiosa. Sua obra foi e continua sendo determinante para a construção do pensamento ocidental. Era um escritor intenso, que deixou mais de mil publicações, entre livros, sermões, textos filosóficos e doutrinais”, explica o autor e ator.

A Veja Cá, Veja Lá conversou com Eduardo Rieche sobre os 15 anos da peça,  lá no Brasil,  e sobre possibilidade de ela vir para cá,  Portugal.  

Porque você escolheu Santo Agostinho?

Tomei contato com a obra de Santo Agostinho quando cursava a faculdade de psicologia, nos anos 1990. Estudando as noções de pessoa, sujeito e personalidade, chamou-me a atenção o fato de que alguém que viveu nos séculos IV e V – isto é, muito antes destes termos serem “inventados” – já havia escrito uma “autobiografia” (O clássico Confissões). Era o “eu” ganhando um espaço literário pela primeira vez na história. E havia um método para essa introspecção e esse autoexame psíquico. A partir daí, fui conhecendo mais a obra de Santo Agostinho, e percebendo o quanto ela é vasta e plural. Entre os anos 2000 e 2008, amadureci a concepção do texto, montei a equipe e tentei captar recursos para viabilizar a montagem. No fim, consegui cumprir apenas os dois primeiros objetivos – acabei produzindo o espetáculo com recursos próprios. Em relação ao título “Inquieto Coração”, eu o extraí de uma famosa frase de Confissões. No Livro I, capítulo 1, Santo Agostinho diz: “Criaste-nos para Ti, e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Ti”, referindo-se ao louvor e à invocação a Deus. Em um recurso quase metonímico, o adjetivo “inquieto” acaba dizendo respeito ao próprio desassossego da alma agostiniana, e de sua incessante busca por respostas as mais diversas. Entretanto, mais do que uma angústia existencial, penso que o título traduz a aventura do pensamento deste homem e a alegria do conhecimento, que, no caso de Agostinho, passa também pelo coração. Na filosofia agostiniana, viver é inseparável do sentir.

A verdade de Santo Agostinho é relativa. Como é lidar com esse pensamento nos tempos atuais?

Em certo sentido, todas as verdades são relativas, não é mesmo? Mas, para entender a obra (e a personalidade) de Santo Agostinho, é preciso ter em mente que, na época em que ela foi escrita, a filosofia havia perdido a confiança na razão. Mergulhada no ceticismo, a filosofia duvidava, inclusive, da possibilidade do conhecimento da verdade. Coube, então, a Agostinho restaurar a certeza da razão – e isso, paradoxalmente, por meio da fé. Ele diz, por exemplo, que é preciso “crer para entender”, e não o contrário. Seu pensamento, porém, está sempre ligado ao concreto, ao aqui e agora, e só a partir daí é que parte para o voo metafísico. No livro “Solilóquios”, ele diz, textualmente: “A verdade é aquilo que é. Portanto, nada será falso, porque aquilo que é, é verdadeiro”. Ou seja, tudo o que existe é verdadeiro – as coisas existem no mundo concreto, mas só existem porque há, antes, um olhar humano capaz de legitimar sua existência e lhes conferir sentido. Não há coisas no centro da Terra, pois lá não há quem as perceba!

Inquieto Coração não é um texto comercial, mas é muito querido pelo público e respeitado pela crítica. A que você atribui o sucesso da peça?

Talvez a explicação esteja no fato de que, Agostinho, ao mergulhar em sua própria vida psíquica, toca em temas universais que, curiosamente, têm muitos pontos de convergência com vários autores e pensadores modernos. Vários de seus questionamentos seriam revisitados e/ou aprofundados muito tempo depois – na filosofia, por Descartes e Kierkegaard; na psicanálise, por Freud, e na literatura, por Proust e Joyce, por exemplo. Este eixo de “modernidade” foi, aliás, o que me guiou na adaptação; procurei extrair das obras de Santo Agostinho aquilo que me parecia mais relevante para o homem contemporâneo, e, naturalmente, que pudesse despertar um interesse cênico. O resultado é que o espectador desavisado pensaria que seus textos foram escritos nos dias atuais. Muitos espectadores, aliás, saem bastante surpreendidos com este fato. Alguns me “confessaram”, por exemplo, que se remeteram aos moderníssimos estudos da física quântica, especialmente em uma cena em que Agostinho discorre sobre a natureza do tempo. Realmente, “Inquieto Coração” não poderia ser definida como uma peça biográfica, nem como uma peça estritamente religiosa. Pela receptividade do público, acredito que, aparentemente, fiz a escolha certa ao classificá-la como um “monólogo filosófico”, embora estas reduções sejam sempre simplistas. Acredito, sim, que o espetáculo propõe um convite à reflexão, e, por isso, tem despertado o interesse de um público diferenciado e heterogêneo. Prova disso é que mesmo os que não conhecem o universo de Santo Agostinho saem satisfeitos.

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FICHA TÉCNICA

Dramaturgia e Atuação: Eduardo Rieche

Direção: Henrique Tavares

Cenário: Doris Rollemberg

Figurino: Mauro Leite

Iluminação: Renato Machado 

Projeto Gráfico: Batman Zavareze 

Trilha Sonora: Eduardo Rieche e Henrique Tavares 

Fotos: Almir Reis 

Administração: Dulce Penna 

Cenotécnico: Renato Silva 

Chefe de Palco: Sabrina do Amaral André 

Confecção de Figurino: Jorge Luiz Pereira 

Gestão de Mídias Sociais: Top Na Mídia Comunicação 

Montagem de Luz: Maurício Fuziyama e Wallace Furtado 

Operação de Luz: Wallace Furtado 

Operação de Som: Marcelo Stu Idealização e Produção: Eduardo Rieche

 

 

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

www.jspontes.com.br

 

SEVIÇO: 

ESTREIA: dia 07 de novembro (3ªf), às 20h 

ONDE: Teatro Poeira – R. São João Batista, 104, Botafogo / RJ Tel: (21) 2537-8053 HORÁRIOS: 3ª e 4ª às 20h

INGRESSOS: R$60 e R$30 (meia) / VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/87463/ e na bilheteria do teatro de 3ª a sab das 15h às 20h e dom das 15h às 19h 

CLASSIFICAÇÃO: 12 anos / DURAÇÃO: 55 min / CAPACIDADE: 171 espectadores / ACESSIBILIDADE: sim / GÊNERO: monólogo / TEMPORADA: até 13 de dezembro.