Exposição PLUG-IN –
Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos apresenta, em Lisboa, a exposição individual Plug-in no MAAT, que reúne obras inéditas, algumas das peças icónicas produzidas pela artista plástica desde 2000, e obras da Coleção de Arte Fundação EDP, estabelecendo um diálogo entre o património da eletricidade, a tecnologia e as artes plásticas. Solitário e I’LL BE YOUR MIRROR, duas instalações externas, estão mudando o cenário em volta do museu e virando ponto turístico na cidade.
Plug-in tem lugar em ambos os edifícios do museu, agora designados como MAAT Central e MAAT Gallery. No primeiro, a artista apresenta a Árvore da Vida (2023), criada no contexto da Temporada Cruzada Portugal-França e agora adaptada à Sala da Baixa-Pressão Sul da Central Tejo.
No MAAT Gallery, são apresentadas quatro obras: a inédita Drag Race (2023), que estabelece um diálogo com War Games (2011), duas viaturas convencionais transformadas em obras de arte, a primeira exuberantemente ornamentada com talha dourada e plumas e a segunda coberta com espingardas brinquedo e recheada com bonecos de peluche. Da Ásia chega a tentacular escultura têxtil Valkyrie Octopus criada em 2015 para o casino MGM Macau; pela primeira vez na Europa, será suspensa na Galeria Oval.
A estas obras da produção mais recente da artista, junta-se uma outra pertencente à Coleção de Arte Fundação EDP, que permite revisitar a sua história, sem nunca perder a ligação elétrica que dá o mote a esta exposição. Strangers in the Night (2000) marcou presença nesta mesma localização em Medley, a primeira retrospetiva de Joana Vasconcelos, tornada possível pela primeira edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP que lhe foi atribuído em 2000.
SOBRE AS OBRAS:
ÁRVORE DA VIDA (2023): partindo do desafio para dialogar com a escultura de Gian Lorenzo Bernini na Villa Borghese, Joana Vasconcelos imaginou a árvore em que a figura mitológica de Dafne se torna quando, fugindo às investidas amorosas de Apolo, decide transformar-se em loureiro. Um gesto de autodeterminação e superação que encontrou paralelo quando – no confinamento a que o seu atelier se viu forçado devido à pandemia de Covid 19 – a artista plástica pediu aos artesãos que com ela trabalham que se ocupassem da produção de folhas. 140 000 no total, todas bordadas à mão, com motivos diferentes, tal como o canutilho de Viana do Castelo, assentes em 354 ramos formando uma árvore com mais de 13 metros de altura. Criação site-specific para a Sainte-Chapelle de Vincennes em Paris levada a cabo em colaboração com o Centre des Monuments Nationaux para celebrar a Temporada Cultural Portugal-França 2022, com curadoria de Jean-François Chougnet, a obra reforça a verticalidade do vínculo entre terra e céu, mundano e espiritual.
DRAG RACE (2023): atribuindo matéria palpável ao luxo que constitui a expressão própria sem restrições, Joana Vasconcelos deu vida nova a um Porsche 911 Targa Carrera. Partindo da opulência do Barroco e das curvas generosas da talha dourada, a pesquisa da artista plástica levou-a ao Mosteiro de Tibães, em Braga, expoente máximo dos motivos marinhos na talha dourada em Portugal e ao triunfal espécime dos Oceanos que integra a coleção do Museu dos Coches em Lisboa. Na concretização do projeto recorreu aos artesãos da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva – do tratamento da madeira ao douramento, passando pela cinzelagem e gravação – para criar uma obra única no mundo que também é uma celebração da perícia manual. Mesmo sem sair do lugar, figuras angelicais e plumas sensuais conferem à peça a ilusão de voo proporcionada pela velocidade, convidando a uma viagem ao charme do can-can parisiense e estabelecendo a ligação às drag races dos Estados Unidos da América a que a artista foi buscar o título.
I’LL BE YOUR MIRROR (2019): aludindo ao papel dos artistas na sociedade, Joana Vasconcelos cria um jogo de ocultação. Servindo-se de 255 molduras barrocas em bronze (desenhadas e profusamente decoradas pela artista) e de 510 espelhos de mão sobrepostos como se de escamas se tratasse, constrói uma surpreendente máscara veneziana. Através de uma peça escultórica que se adapta tanto ao espaço exterior como interior, a artista plástica estabelece um diálogo profícuo com a envolvência. Já o público que pretender encontrar a sua imagem devolvida, é convidado a descobrir que “só há reflexão quando há paralelismo” como explica a artista. Retirado da música homónima, escrita por Lou Reed e interpretada pelos Velvet Underground e pela cantora Nico, o título também serviu de tema à mostra individual no Guggenheim de Bilbau.
SOLITÁRIO (2018): o tema do desejo encontra-se no epicentro desta criação de Joana Vasconcelos que reproduz um anel de noivado em escala monumental. Representação do amor e do compromisso entre duas pessoas que a sociedade de consumo haveria de transformar em símbolo de estatuto e poder, o Solitário da artista plástica é composto por 110 jantes de automóvel douradas a criar uma circunferência coroada por uma pirâmide invertida formada por 1450 copos de whisky em cristal, simulando um diamante gigante. Conjugando dois dos mais estereotipados símbolos de luxo – automóveis e diamantes – para recriar um dos objetos mais cobiçados do mundo, Joana Vasconcelos questiona ainda os papéis masculino e feminino na sociedade atual. Peça criada em 2018 para o exterior do Guggenheim de Bilbau no contexto da exposição I’m Your Mirror, passou ainda pela Kunsthal de Roterdão, o Parque do Museu de Serralves e o Yorkshire Sculpture Park.
VALKYRIE OCTOPUS (2015): esculturas inspiradas nas figuras femininas da mitologia nórdica que sobrevoavam os campos de batalha, trazendo de volta à vida os mais bravos guerreiros, para se juntarem às divindades em Valhalla, as Valquírias de Joana Vasconcelos são elaboradas com materiais têxteis, empregando uma diversidade de tecidos, croché e passamanaria. O resultado final é um surpreendente jogo de volumes, texturas e cores, que recorre à perícia manual e atualiza para o século XXI a ligação entre artes e ofícios. Compostas por um corpo central, cabeça, cauda e diversos braços, muitas das Valquírias cruzam ainda o labor artesanal com a componente tecnológica, através da inserção da luz que – simulando a vibração e a respiração – lhes confere movimento e vida. Neste caso particular, a artista plástica empregou tecidos nobres que nos remetem para a Rota da Seda e a interligação entre as tradições portuguesas e macaenses numa criação site-specific para a MGM Macau.
WAR GAMES (2011): apreciador de automóveis antigos, o avô de Joana Vasconcelos ofereceu-lhe este Morris Oxford clássico para que praticasse a destreza ao volante após a emissão da carta de condução. Sem mossa, o primeiro automóvel da artista plástica foi elevado à categoria de obra de arte, que nele projetou universos simultaneamente antagónicos e familiares. O exterior crivado com dezenas de espingardas de plástico e luzes LED vermelhas que se acendem e apagam ininterruptamente; o interior repleto de centenas de bonecos de peluche que se agitam ruidosamente clamando por atenção e espaço. A negritude da aparência, em contraste com os passageiros coloridos, permite à artista conjugar o caráter bélico e o lado festivo, numa viagem que vai da infância à idade adulta, do sonho ao pesadelo, da escuridão à luz. E o título sublinha o jogo metafórico deste inovador memento mori.
STRANGERS IN THE NIGHT (2011): A obra emite, em contínuo, uma canção de Sinatra, “Strangers in the Night”, e recebe dela o título. A promessa de amor fugaz, tornada na canção em amor duradouro, é desmentida neste dispositivo: o décor interior de uma cabine de peep-show em napa branca aberta ao espectador, forrada exteriormente de farolins de carros que piscam continuamente, fala-nos apenas de carros rodando na noite, de homens procurando os amores baratos e fortuitos de uma qualquer mulher, ausente de cena mas subjugada.
Biografia da artista
Nascida em 1971, Joana Vasconcelos é uma artista plástica portuguesa com cerca de 30 anos de carreira, reconhecida pelas suas esculturas monumentais e instalações imersivas. Descontextualizando objetos do quotidiano e atualizando o movimento de artes e ofícios para o século XXI, estabelece um prolífico diálogo entre a esfera privada e o espaço público, a herança popular e a alta cultura. Com humor e ironia, questiona o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva.
A aclamação internacional chegou em 2005 com A Noiva na primeira Bienal de Veneza curada por mulheres, onde voltou sete vezes até à data, em 2013 ao leme do Trafaria Praia enquanto Pavilhão de Portugal, o primeiro pavilhão flutuante do certame. A mais jovem artista e primeira mulher a expor no Palácio de Versalhes; em 2012 a sua exposição foi a mais visitada em França em 50 anos, com um recorde de 1,6 milhões de visitantes. Em 2018 tornou-se na primeira artista portuguesa a ter uma individual no Guggenheim de Bilbau, a quarta melhor desse ano para The Art Newspaper e a terceira mais visitada da história do museu. As suas obras de arte integram exposições e coleções nos quatro continentes, tais como as das fundações Calouste Gulbenkian, Louis Vuitton e François Pinault.
Agraciada com mais de 30 prémios, em 2009 recebeu o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República Portuguesa e em 2022 tornou-se Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura francês. A partir de Lisboa e para o mundo, gere, desde 2006, o Atelier Joana Vasconcelos com cerca de 50 funcionários e, em 2012, criou a Fundação Joana Vasconcelos para conceder bolsas de estudo, apoiar causas sociais e promover a arte para todos.
JOANA VASCONCELOS
PLUG-IN
De 29 de setembro de 2023 a 31 de março 2024
Fotos: Bruno Lopes
Texto: Material de divulgação Fundação EDB Comunicação
Curadoria: João Pinharanda
MAAT Central e MAAT Gallery
Av. Brasília, Belém, 1300-598 –Lisboa